A invisibilidade das pequenas percepções (making off)
2008
Ficha técnica e Artística
Realizado por: Miguel Clara Vasconcelos
Produção: Companhia Paulo Ribeiro
São dois corpos, são duas pessoas, são dois indivíduos que respiram, choram, odeiam, são amados ou não...e dançam! Em A Invisibilidade das Pequenas Percepções vemos um processo de criação capaz de transformar pessoas com baixas expectativas sociais em intérpretes de um espectáculo contemporâneo que desafia vários estereótipos sobre a dança, a motricidade e a interpretação musical.
NOTA DE INTENÇÕES:
No início nenhuma imagem, nenhuma associação de ideias. Não sabia porque um coreógrafo me contactava para “trabalhar sobre o seu trabalho”. Não conhecia o Romulus Neague e fiquei curioso em saber como é que ele conhecia o meu trabalho. Encontrámo-nos no Porto, no café Java, por ser perto do Teatro Nacional de São João, onde ele actuava nessa noite. Tinha-me enviado o projecto com antecedência, um espectáculo de dança cujos intérpretes eram duas pessoas com experiências de vidas no limite da “normalidade”, o limite físico e o limite social. Eu tinha muitas perguntas. O Romulus também. Os ensaios levaram-me a transportar vários quilos de equipamento para Viseu e a instalar-me perto do estúdio de dança por temporadas de 3 e 4 dias. O que filmar? Qual o ponto de vista? Qual a história, para além do espectáculo? Um documentário, mesmo com a lógica de um “Making Of ”, deve contar uma história, fazer o espectador viajar pelos bastidores, mas também por emoções reais, anteriores ao espectáculo propriamente dito. Além de acompanhar e filmar ensaios, eu quis conhecer a vida dos seus intervenientes. Dar visibilidade ao “lado real” de forma mais directa e explícita do que a coreografia do Romulus. Ele compreendeu isso desde o início e colaborou em todo o processo de contacto com instituições e pessoas, para conseguir trazer para a tela excertos do quotidiano, de quotidianos diferentes do nosso. Para mim, é esse o fascínio do documentário. Ser capaz de revelar o lado fantástico da realidade. Por fim, o árduo processo de montagem, onde temos de reorganizar as imagens captadas de uma forma coerente, a partir do material filmado mais do que das ideias pré-definidas no guião. A escolha dos planos obedeceu a uma interpretação mais subjectiva do espectáculo e dos seus participantes. Procuro que o meu trabalho seja como uma janela que permita ver o “outro lado”, mas onde os vidros não são completamente neutros nem completamente transparentes e alteram ligeiramente a imagem. Uma janela que deixa ver o mundo através de lentes especiais, ou, melhor dito, pessoais.
Miguel Clara Vasconcelos
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